Caio, o menino morto.

Caio, o menino morto.

Rua 7 de abril.

Maria* caçando palavras.

João* azarando Natália*, do lado de Maria*.

Caio* do nosso lado.

Cócegas…

Quer ir para uma exposição de circo aqui do lado?

Me carrega?

Aconteceu um morto. Não sei se pela gente, ou por ele, mas a brincadeira começou quando ele fingiu que estava morto.

Erámos em 4 educadores.

Cada um com seu respectivo braço e perna do morto.

Para onde vamos levar esse corpo? Pergunta pro morto… mas o morto tá morto…

Andando pelo centro de São Paulo. As pessoas nos paravam, perguntavam para onde estávamos levando aquela criança.

Nos paravam para perguntar. Dava medo de responder: Tá morto, uai!
Às vezes respondíamos, às vezes dizíamos que era brincadeira.

Um senhor se aproximou. Olhou para o menino morto, disse que daria um beijo nele para ver se acordava. Caio abriu os olhos na hora.

AHHHHH! O morto tá vivo!

Voltou a morrer.

Para onde levaremos esse corpo?

Fomos andando.

Uma senhora parou, ofereceu pirulitos, pegou na mão dele, disse que levaria ele para tomar um banho.

Olha essa tiazinha… Disse Caio, rindo.

Voltou a ficar morto.

Vamos leva-lo para o cemitério?

Chegou um senhor que ele conhecia. Esse senhor morava na rua.

Correu atrás de Caio, ele saiu correndo.

Veio até nós, pediu para ser carregado de novo. Como não sabíamos o que fazer com o morto, chamamos o vivo para ir à Galeria Olido ver a exposição de circo.

Não é um circo de verdade! Disse Caio.

Vimos a exposição, ele nos chamou para ir embora. Pegou seu cigarro, sua garrafinha de tinner e rumou de volta à 7 de abril.
 

 

Texto de Raonna Martins.

*Os verdadeiros nomes foram trocados para preservar a identidade dos envolvidos.

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