Em nossas andanças, acompanhamos e nos enlaçamos com muitos jovens que realizam incertas e perigosas travessias pela cidade. Conhecemos Pedro* enquanto caminhávamos em Guaianazes, o segundo encontro foi no vão do MASP. Pedro perdeu a mãe aos 9 anos, o pai aos 15, um irmão assassinado, outro irmão que desapareceu após ser apreendido.
Entre tantas perdas foi perdendo os fios que o ligava à seus familiares e à sua comunidade de origem. Desde então, muitas outras perdas: perdas de um lugar para morar, perdas de peso, de atenção, de memória, perdas de alguns sonhos e temporariamente até mesmo da vontade de viver.
Criamos um vínculo de cuidado e confiança que nos permitiu ouvi-lo, conhecê-lo e criar junto com o seu desejo e nessa travessia, por entre tantos altos e baixos, Pedro começou a acessar serviços de saúde, assistência social, escola, abrigos. Tiramos documentos, bilhetes únicos, acompanhamos internações hospitalares, acolhimentos em CAPS 3, momentos de crise, mas também de alegria: aniversário, parques, salas de informática, almoços e feijoadas cantando Tim Maia e incessantes planos e sonhos de uma vida digna e amorosa.
Hoje, com 4 anos de atendimento, está realizando novas transições para a vida adulta, em uma Unidade de Acolhimento Adulta, com a busca do primeiro emprego apoiado e a reinserção na escola, na cidade onde ele não precisa viver refugiado.
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