Marquinho e a sua Copa

    Encontramos Marquinho* perto do prédio dos Direitos Humanos, no Pátio do Colégio. Havia crescido um pouco, mais gordinho também. Estava com 14, corpinho de 13. Eles nos viu e nos abraçou. Fazia um ano já? Por aí. Descobrimos logo depois que suas metas do dia eram:

–         Comer um miojo;

–         Nos mostrar o brinquedo novo instalado no Vale do Anhangabaú;

–         Planejar a praia, possivelmente Santos, do fim de semana.

    O miojo não foi tão difícil. Uma senhora que estava no mercado se mobilizou com a causa e comprou-lhe um CupNuddles. A meta agora era arrumar um garfo e esquentar a água, o que poderia ser feito em um dos bares, milhares, do centro de São Paulo. Antes da refeição, no entanto, algo diferente: um artista de rua aglomerou uma multidão para fazer suas mágicas em plena 7 de abril, e quem foi escolhida para assistente do mágico? A tia maluca do Quixote. Marquinho riu de gargalhar quando o mágico multiplicou as bolinhas da mão da tia maluca; foi de fato algo bem impressionante. Continuamos a caminhada rumo a água do "miojo", mas paramos para descansar nas instalações da FunFest para a Copa, no Vale. Ele queria porque queria brincar no Barco Viking, um dos brinquedos lá montados especialmente pra o evento. O brinquedo, ele sabia, seria inaugurado no dia seguinte, estréia da Copa, e era de graça. “Será que vai dar medo?”. Não sabia. Mas sabia a programação completa: “Vai ter show da Ivete Sangalo!”. “Ivete sem graça?”, pergunto. Ele ri de novo.                                                                                                                                                                                         Finalmente chegamos aos bares e, por volta da terceira pedida, um cara dum bar esquentou seu miojo. Fomos no redondo ao lado do metrô pra comer, e lá falamos de “casa”. – “Tenho um bom motivo pra ter saído de casa…”. Engasgou com a comida. Um pouco de silêncio pairou no ar, silêncio necessário. Histórias sobre “minha mãe”, “meus irmãos” e “os vizinhos” também rolaram. Depois da comida, queria encerrar o encontro perto da praça. Perguntamos se ele ia pra praia ou se poderíamos encontrá-lo na sexta. Ele disse:  – não sei mais se vou, acho que pode ser sexta.    Fechamos sexta, na Gaspar, depois do almoço.

Texto: Pedro Desidério, psicólogo e educador terapêutico no Projeto Quixote.

*O verdadeiro nome foi substituido para preservar a identidade da criança.

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