Era uma vez

um fidalgo

que não fazia mais nada da vida: 

não comia, não bebia,

nem dormir ele dormia. 

Só lia. 

E lia somente livros de cavalaria. 

Um dia ele se tocou. 

E se levantou. 

Deixou de ser apenas mais um espectador. 

Fez de Rocin, um pangaré, sua montaria possante:

o Rocinante!

De um jeito Dom Quixote de ser... 

Abandonou casa,

família, 

propriedades e...

saiu pelo mundo acreditando ser um daqueles heróis

dos livros de cavalaria que tanto lia!

Mas logo caiu e voltou. 

Percebeu que, humanamente sozinho,

não daria.

Somente as inspirações advindas dos livros

e a montaria não lhe bastariam. 

Então, em companhia de seu, a princípio, 

desconfiado escudeiro,

partiria. 

Para o povo de sua época – 

aliás, para os homens de todas as épocas – 

tornara-se doidão. 

Para nós do Quixote, não. 

                                               [Andreia de Almeida]